Amar é muito bom, mas quando este amor nos torna reféns de nossas próprias emoções comprometendo
nosso bem-estar ele torna-se questionável, trazendo à tona perguntas como: “Será que estou
amando
demais?”
A partir deste questionamento, popularizou-se o termo “Mulheres que amam demais”, que intitula a
obra literária de Robin Norwood, descrevendo alguns padrões de comportamento relacionados à
dependência emocional, no qual mulheres tendem a investir demais emocionalmente em seus
relacionamentos (sejam eles românticos ou não, podendo se estender a amigos, familiares, filhos,
etc.), muitas vezes sacrificando suas próprias necessidades.
Ao crescer em lares com dinâmicas disfuncionais, ou nos quais as necessidades emocionais não foram
devidamente supridas, é possível que um indivíduo experiencie no decorrer de sua vida quadros de
dependência emocional. Muitas vezes, fazendo-os acreditar, ainda que inconscientemente, na salvação
de suas mais intensas necessidades através do ato de receber ou dar amor.
No entanto, o que torna esta dinâmica extremamente questionável são as questões de autoestima
envolvidas neste contexto. Ao acreditarmos na salvação através de um amor externo, podemos ser
direcionadas à relações pela busca deste preenchimento de um vazio existencial que pode estar te
acompanhando desde a infância.
Deste modo, a vivência do amor torna-se um emaranhado de ansiedades, tentativas de controle e
constante busca de validação, geralmente disfarçados e mesclados a agradáveis momentos de paixão e
afeto, aos quais a mulher que ama demais costuma apegar-se fortemente, a fim, de fortalecer suas
crenças de salvação através do amor que é capaz de conquistar, fazer o outro amá-la torna-se sua
maneira de ser amada.
Quando algo gera trabalho constante, criamos afetos em relação àquilo. É possível confundirmos o
trabalho pela busca de amor com o ato de amar. É possível que a conquista em mudar e arrumar a vida
de uma pessoa com a qual você se relaciona seja mais atrativa do que a ideia de aceitação em receber
alguém em sua vida da maneira que aquela pessoa já é.
Por isso, com o passar do tempo o controle se mostra o braço direito de relações sustentadas por uma
dinâmica de dependência, afinal de contas, a ideia da falta, rejeição ou abandono podem gerar
tamanho desconforto que se mostram necessárias a criação de estratégias que evitem estas
experiências a todo custo.
No contexto da experiência feminina, a pressão social e as expectativas culturais podem acentuar
esse fenômeno. De alguma forma, qualquer estratégia adotada para evitar tal abandono tem raiz num
intenso medo da solidão e grandes lacunas na sustentação da auto estima. Ao se perder de si, parece
apenas nos restar o outro.
Sendo assim, o processo de resgate da auto estima e estratégias de auto acolhimento se colocam como
maneiras de quebrar esses padrões instaurados nas relações. Aprender a amar-se demanda
autoconhecimento, e por vezes, conhecer-se demandará concentrar menos energia em suas relações
externas e mais concentração em sua autopercepção, reconhecendo suas necessidades emocionais e
colocando-se à supri-las da maneira mais independente possível.
Levantando questões como: O que eu gosto? Como compreendo o amor? O que me faz sentir amada?. É
possível chegar a reflexões que identifiquem necessidades de ressignificação de alguns conceitos que
nos fazem compreender o amor, reconhecendo nossas próprias crenças disfuncionais acerca dos afetos.
Fazer as pazes com sua própria companhia lhe abrirá portas para o investimento em relações leves e
saudáveis, sem medo do abandono. Afinal de contas, você é a sua melhor companhia. E apreciar sua
presença não te fará fadada à solidão, pelo contrário, te possibilitará criar laços verdadeiramente
estáveis e acolhedores.
Em um mundo que muitas vezes exige sacrifícios emocionais das mulheres, reconhecer e abordar
dependência emocional é um ato de auto compaixão e coragem. A psicologia para mulheres se propõe a
ser um guia nessa jornada, promovendo a liberdade emocional e a construção de relacionamentos
baseados no respeito mútuo e na reciprocidade. Ao abraçar essa jornada, as mulheres podem encontrar
o equilíbrio emocional necessário para viver uma vida plena e autêntica.
Referências Bibliográficas: Norwood, Robin. Mulheres que Amam Demais. São Paulo: ARX, 1985.